quarta-feira, 18 de agosto de 2010

20 - Peludinho do Meio 2 - Podólatras de Plantão

Peludinho do meio é o caralho!!! Já disse isso aqui no blog faz dois anos!!!
Caro leitor, depois desse tempo resolvi cumprir a promessa feita em 2008: "Viu porque fazer sites é algo traumatizante? E isso não é nada. Em breve, conto mais alguns episódios!!!"
Quero compartilhar com vcs um pouco dos três anos que desenvolvi sites, nos primórdios dessa tal Internet popular brasileira. Em 1995 foram fechadas as mais de 40 BBS brasileiras e os internautas acadêmicos ficaram órfãos dessas redes experimentais que funcionavam nas universidades desde 1987. Ainda em 1995 surgem os provedores Embratel e Mandic. Depois, Unysis e IBM. No ano seguinte surgem BOL, UOL e ZAZ. Em 2000 o ZAZ se tornaria Terra e a Internet estava bem disseminada no Brasil. E de lá para cá não é novidade para ninguém.
No início de 1997 comprei o Macintosh como equipamento da minha futura agência de publicidade. Esse equipamento vinha com uma tal placa de fax / modem de 14.400 kbps cuja função eu não tinha a menor idéia qual era. Sabia o que era um fax!!!
Alguns dias foram suficientes para desvendar o mistério da placa e logo estava eu procurando um provedor de acessos.  tentei uns três ou quatro até encontrar um que soubesse configurar todos aqueles DNS primários e secundários corretamente e me colocar conectado em impressionantes 14.400 kbps. Essa velocidade fazia desafiador baixar uma foto de um site qualquer, por menor que fosse o arquivo. E, como utilizava a linha telefônica como suporte de dados, se o telefone tocasse ao final de um download, tinha que começar tudo novamente após praguejar contra a pessoa que havia ficado com coceira no dedo e não podia ter esperado mais cinco minutinhos para ligar.
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Pois foi nesse cenário que comecei a fazer os meus primeiros sites. Depois de fazer alguns testes, subir e derrubar páginas isoladas em hosters gratuitos como Geocities e Xoom, resolvi fazer um site de verdade. Site de verdade, nesse caso, seriam duas páginas: a página um com o link para a página dois e a página dois com o link para a página um. Na página um tinha o contador de acessos e na página dois o endereço de e-mail para contato. Chique, não é mesmo? E teria que ter aparência de coisa profissa.
Quando era solteiro, assinava a Revista Playboy. Como estava casado fazia apenas alguns meses, a assinatura ainda era vigente e eu tinha alguns pares dessa revista maravilhosamente inútil que, outrora, fora maravilhosamente importante na minha vida. Pois foi nessa pilha de revistas que pesquei uma delas e havia uma reportagem sobre podolatria. Podolatria é a adoração por aquele par de coisas que ficam logo abaixo das mulheres, com cinco coisinhas pintadas de vermelho, geralmente. Abri na página da matéria, escaneei as fotos, redimensionei no poderoso Adobe PhotoShop 4.0 e comecei a digitar e transpassar o texto da revista para a telinha do Macintosh, ipsis litteris. Sem querer, acho que fiz a primeira edição digital da Revista Playboy. Ou, pelo menos, de uma de suas matérias. E, sabem de uma coisa: não é que o sitezinho ficou bonitinho? Essa abaixo é uma das fotos originais da revista, utilizadas no site.
Prende a prisioneira o prendedor, que do seu fascínio não escapa. Há cinco séculos Camões cantava: "Esta cativa que me tem cativo", enamorado de uma escrava. Mistério: o prendedor prende-a para que não fuja, ou para prender-se? Porque como escapar dos encantos subjugados, como fugir à tentação de acariciar uma onça fora de combate, pés atados? Ele os prende com algemas para a mulher desejada não arredar dalí os delicados pés, e nem ele? E quanto a ela? É para tê-lo ali, fremente, que se deixa prender? Com o parágrafo acima, iniciei meu primeiro site não monopágina. Até que ficou interessante, não é mesmo, Caro Leitor? O site tinha umas sete ou oito fotos de pés. Exatamente as mesmas da reportagem da revista, na mesma ordem, inclusive. E com o mesmo texto!
Mas a Internet brasileira ainda era muito primitiva e, devido a uma escassez quase plena de sites, as duas páginas do Mr. Feety até que tinham o seu charme. E eu comecei a mostrá-las aqui e ali pela web.
Até que um dia alguém me mandou um e-mail com uma foto anexada e pediu para que eu colocasse aquela foto dos seus pés no site, após alguns elogios. E então veio a segunda foto, terceira. Vieram outros contatos com outras fotos e eu fui colocando todas elas, sempre após dar tratamento na imagem, colocar uma moldura, fazer um recorte. Tudo sempre caprichado, com esmero. E começou a dar certo. Sempre pingavam algumas fotos e logo abri uma seção só para as fotos enviadas. Um dia, recebi o primeiro conto erótico de um fã do site e tb o postei. Logo, vieram outros e, em pouco tempo, as páginas do Mr. feety tinham cara de homepage mesmo!!!
Numa noite, abri a caixa de e-mail e havia um convite diferente dos anteriores: era alguém pedindo para eu fazer uma homepage para um cliente seu. Um susto!!! Trocamos algumas mensagens e a pessoa me brifou e pediu para eu fazer um orçamento. Ah, um orçamento. Como me atrapalhei para fazer o primeiro orçamento de tantos outros que viriam. Não haviam referências. Faltavam pessoas que desenvolvessem sites e eu não sabia para quem perguntar. Então abri o jogo com meu futuro primeiro cliente: "Não sei fazer orçamentos. Me ajude". A Erica tinha um pequeno escritório de webdesign e havia gostado do meu estilo. Queria propor um site em fundo negro, como o do Mr. Feety, para seu cliente, um famoso instituto de estética de São Paulo. Discutimos mais algumas vezes por causa do preço e , no final, deu certo. Fiz o meu segundo site como gente grande. Estava bem orgulhoso disso. Vieram o terceiro e o quarto, ainda por intermédio da Erica. Recebia o pagamento direitinho. Como estava contente com a nova atividade, paralela ao meu trabalho na empresa em que estou, até hoje. Ralava muito, durante a noite, para fazer brotar as páginas para a Internet. O quinto cliente, uma distribuidora de produtos para limpeza industrial, tb apareceu pela minha caixa de entrada. E, dessa vez, eu tive que visitá-lo, fazer os contatos  e tratativas comerciais. Não tinha as mesmas facilidades de trabalhar para a Erica, que fazia essa parte e eu só precisava produzir sem essa preocupação. Mas esse cliente pagava melhor. Tive que visitá-lo algumas vezes e isso comeu boa parcela do meu banco de horas do emprego fixo. Quando ele me pediu um portfolio de homepages, mostrei os sites do instituto, da fábrica de balanças, da empresa de acústica e da escola de idiomas. Não convendendo-o na totalidade, lhe apresentei as páginas do Mr. Feety. E foi Mr. Feety quem selou o acordo. Meu novo cliente adorou o site.
Foram aparecendo outros clientes. E o Mr. Feety sempre aparecia da manga e fechava o acordo. Putz, o que eu poderia concluir? Que só tem tarados podólatras nessa Internet dos infernos, só pode ser!!!
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Em 1999 a Internet estava mais proliferada do que os coelhos na Austrália e os preços para se fazer homepages despencaram como o Skylab, 20 anos antes. Tinha moleque de monte fazendo páginas a dez reais cada. Meu preço, formado devido anos de estudo e treino, se tornara inviável. E, pior: o meu cliente ia parar na mão do moleque webdesigner e depois voltava para eu consertar o estrago. Dava mais trabalho do que começar do zero, certamente. E essa foi uma das razões pelas quais parei de produzir meus filhotinhos virtuais.
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Mr. Feety ficou no ar até 1999. Em 2002 ou 2003, a coloquei no ar por mais um ou dois meses e então, ficou definitivamente na lembrança dos Internautas guturais.
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Já que estamos aqui, algumas curiosidades sobre a homepage. Era toda feita em frames. Fazer um site em frames, ou pequenos pedaços, foi uma tendência no início da Internet. Como as conexões eram extremamente lentas, um determinado link clicado atualizava apenas um desses pedacinhos e o restante do site não precisava ser novamente carregado. Caro Leitor, os buscadores da época traziam somente as páginas iniciais das homepages. Aliás, a gente que ia lá no Infoseek, no RadarUOL, no Cadê, no Yahoo! e outros buscadores e cadastrava o site um a um. Puta mão de obra desgranhenta, se diga de passagem.
Esse foi o promeiro logotipo da Mr. Feety, em 1997:
Os webdesigners da época costumavam disponibilizar os seus banners para serem usados em outros sites e vice versa. Era mais ou menos assim: a gente mandava um e-mail para o designer de um site que considerávamos compatível com o nosso e propunha a troca de banners simultanea. Sempre havia um ou outro designers que esquecia de postar nosso banner em seu site mas a grande maioria era ponta firme. Então foi assim que surgiu a famosa página de links recomendados que perdura até a Internet atual. Esse era o banner do site:
A imagem de fundo é da contra capa do album Erotica. Muitas pessoas acham que Madonna chupa o pé de Naomi Campbell nessa imagem, de 1992. Na verdade, se trata do pé do modelo Tony Ward, segundo o site oficial da cantora.
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Dessa troca de banners o Mr. Feety começou a ficar um pouco mais conhecido. Às segundas-feiras eu fazia atualizações no site. Os internautas mais atentos começaram a prestar atenção a esses detalhes e assim, no último ano de sua existência, o site alcançava cerca de mil visitas ou hits diários após cada atualização. Essa marca essa fantástica para um site amador. E os frequentadores das suas páginas gostavam do formato utilizado: o de disponibilidade de todo o conteúdo de forma gratuita. A grande maioria dos sites dessa época se tornaram pagos.
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Com minha desistência em caminhar nesse território da criação de páginas a Mr. Feety tb entrou em decadência e, rapidamente, caiu em esquecimento por esse que vos escreve. De mil, passou a receber 100 visitantes, depois dez ou cinco ou duas visitas diarias até que se apagou definitivamente.
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Uma curiosidade: com a chegada revolucionária do Google, que utiliza outro sistema de buscas e traz cada pedaço e fragmento de arquivo HTML espalhado no cyber espaço, pedaços de sites começaram a aparecer nas buscas. Com isso, rapidamente, as páginas com frames desapareceram e agora a maioria dominante são de sites que carregam uma nova página inteira e completa e cada clicada sobre os links. E, num processo natural, navegar com algum dinamismo e velocidade exigiu do internauta navegar sob banda larga. Viu como o Google mudou a sua vida nisso tb?
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Essa foi a última versão do logotipo da Mr. Feety, já na sua fase decadente.
E fiquem atentas pq existem mais podólatras entre o tornozelo e a Terra do que possa supor vossa vã filosofia!!!



domingo, 4 de julho de 2010

19 - Difícil arte de ser mulher, difícil arte de ser gente!

Estes dias recebi um texto do Frei Betto chamado Difícil Arte de Ser Mulher. Tratava do premiado filme Ágora, de Alejandro Amenaba, uma analogia entre Hipácia de Ágora, do Século IV, e a realidade feminina do século XXI. O texto descreve sua trama em uma sinopse bem simples e interessante. Para quem quiser conhecer o texto segue o link para essa página que, inclusive, faz a contextualização histórica dos personagens.

Desde que Adão comeu a Eva, a maçã de sobremesa e começou a encher esse mundão véio de gente se iniciou uma curva de crescimento populacional que, em algum momento da história, tenderia a um saturamento. Especificamente neste texto, eu chamo de saturamento qualquer coisa que coloque em colapso o equilíbrio entre a oferta de empregos e mão de obra. Caro Leitor, há mais de um milhão de definições de saturamento, mas não se aplicam a este texto. Considero todas válidas e verdadeiras, mas não pertencem a este texto, por favor.

A Revolução Industrial, o Capitalismo, a Globalização e o Neo Liberalismo deram sua contribuição para chegarmos ao tal ponto de saturação a que me refiro. Métodos e processos audaciosos invadiram as empresas e a ordem era ganhar mais dinheiro com menos recursos, com menos pessoas e em menos tempo. O mundo, que então só pensava em sexo, de 300 anos prá cá começou a pensar tb em ganhar dinheiro, mas muito dinheiro, além de fazer sexo. Nesse momento as empresas passaram a escravizar seus empregados, sugar sua força e reduzir sua expectativa de vida. Lemos na história que, nesse processo de industrialização, o ambiente era hostil, insalubre e o trabalhador não chegava aos 50 anos de vida. Em certa ocasião eu estive em Paranapiacaba, subdistrito de Santo André - SP, e fui conhecer o velho cemitério da pequena vila. Olhando os túmulos que foram ocupados no final do Século XIX, percebi que nenhum morador daqueles jazigos tinha mais de 30 anos, pois morriam muito cedo. Já nos anos 1950's a expectativa de vida mundial já era de 48 anos. Aí surgiram leis trabalhistas, meios de comunicação, união entre trabalhadores. Enfim, o ambiente de trabalho começou a se tornar menos hostil e as expectativas de vida foram se alterando.

Mas a população continuava crescendo e a curva da saturação subia. Mais algumas décadas nesse ritmo e alguns analistas poderiam apostar que os empregos ficariam escassos ou insuficientes.

Vieram os 60's e o Feminismo no mundo ganhou força. Concomitantemente, as mulheres se inseriram fortemente no mercado de trabalho e encontraram esse ambiente mais favorável e menos insalubre. Se reduz o desequilíbrio entre mão de obra masculina e feminina nesse novo mercado.

Nos anos 90's o Feminismo ressurge. Agora, com mulheres bem mais preparadas para o mercado de trabalho, brigam por cargos e funções em igualdade com os homens e começam a ganhar seu espaço nas empresas, para o desespero dos machistas de plantão.

Mas a população continua crescendo e a curva da saturação chegando ao seu ápice. Mais alguns anos nesse ritmo e alguns poderiam apostar que os empregos ficariam escassos ou insuficientes, repetindo o que o senhor e a senhora acabou de ler, acima. Agora, com um agravante: os empresários passaram a contar com um exército de mão de obra mais bem preparado, com maior escolaridade e educação. Muito conveniente para a nova era tecnológica que chegara.

Nesse momento, foi inventada a jornada dupla. A mulher se fodia na empresa, era assediada pelo chefe e ainda dava conta da casa quando chegava, ao término do expediente.

Os empresários ficaram com a faca e o queijo na mão. A procura por empregos se tornou maior que oferta e os salários diminuíram. O que o pai de família ganhava para o sustento do lar não era mais suficiente. O salário da mulher se tornou essencial para a composição da renda. A publicidade e as novas obrigações sociais nos ensinaram a consumir mais. A qualidade das escolas e da saúde pública se perdeu e tivemos que pagar pela educação e pela saúde nos setores privados. Nas férias, ganhamos novas obrigações como viajar para lugares caros ou frequentar lugares da moda. E essa moderna dinâmica de consumo, meu caro leitor, nós conhecemos melhor do que ninguém e não é preciso entrar no mérito neste texto.

Tivemos um saldo negativo aqui. Com a oferta de mais mão de obra essa saturação foi adiantada em algumas décadas. Afinal, as mulheres representam mais da metade da população mundial. Uma representatividade importantíssima na sociedade.

As famílias foram obrigadas a terceirizar o lar e a educação dos filhos; as mulheres se tornarem escravas de padrões de beleza por causa da competitividade social e profissional e deixaram para ter filhos mais tarde. A família perdeu. A sociedade perdeu. Só os empresários ganharam. Com a globalização e o neo liberalismo essa roda viva se acentuou nos lares de forma medonha e assustadora.

Nos faz pensar se as Pós-Feministas estariam tão erradas assim. Por conta de uma pseudo igualdade as mulheres ficaram com a parte pior - mais uma vez. E agora é caminho sem volta. A sociedade foi enganada. As famílias perderam as mães por conveniência das empresas. Aprendemos a consumir e por mais horas durante o dia. Queremos ganhar mais dinheiro.

Socorro, enganaram a gente!!!

Assinado: um marido que trabalha prá cacete casado com uma mulher que trabalha prá cacete, para juntos, comporem a renda da família e garantir o futuro de sua filha linda!!!

Nota: excluam-se aqui as mulheres que obtiveram seu sucesso alheias ao ambiente fabril, sejam como empresárias, profissionais liberais ou como mães, respeitando a cruz de cada uma!!!